Compartilhadas por Geiza Matos e Letícia Camargo Carvalho, experiências de Barcelos e São Gabriel da Cachoeira, respectivamente, mostraram como o serviço extrajudicial se adapta às realidades amazônicas para garantir direitos.
O Amazonas teve representação no 31º Congresso Nacional do Registro Civil (Conarci 2025), realizado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen/BR) com apoio da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de Alagoas (Arpen/AL) entre os dias 11 e 13 de setembro. As registradoras Geiza Matos (Ofício Único de Barcelos e diretora de Direitos Sociais e Cidadania da Anoreg/AM) e Letícia Camargo Carvalho (Ofício Único de São Gabriel da Cachoeira) compartilharam suas experiências no painel “Registro Civil de Pessoas Naturais: a cidadania que floresce na Amazônia”.
Abrindo os trabalhos do dia 13, o painel foi conduzido pelo presidente da Arpen/BR, Devanir Garcia, que ressaltou a relevância de dar voz aos registradores que atuam em condições desafiadoras. “Essas colegas realizam um trabalho espetacular em locais de difícil acesso, mostrando que, mesmo nos lugares mais inóspitos, o Registro Civil é presença viva. O que veremos aqui é fonte de inspiração e de energia para todos nós”, afirmou.
Em sua participação, Geiza Matos relatou o impacto ao assumir o cartório de Barcelos, há cinco anos. Sem conhecer a fundo a realidade do interior, encontrou um cenário marcado pela vulnerabilidade social e pelo desconhecimento da própria função registral.
“Encontrei crianças com fome, idosos sem acesso à cidadania, comunidades inteiras sem registro. Saúde não conversava com a Funai, que não conversava com a assistência social. Ninguém sabia sequer que existia um cartório. Foi um choque de realidade”, contou.
Para enfrentar o desafio, ela aproximou o cartório das comunidades indígenas e ribeirinhas, criando protocolos específicos e respeitando particularidades culturais. “Não sou eu que digo como eles devem ser atendidos. Eu aprendi a escutar e adaptar o serviço. Coloquei cartazes em línguas indígenas, criei filas específicas, mapeei comunidades. O cartório precisava ser acolhedor e respeitoso com todos”, destacou.
Já Letícia Camargo Carvalho mostrou como estruturou um atendimento inclusivo em São Gabriel da Cachoeira, município conhecido pela riqueza cultural e pela presença de 26 etnias indígenas. “Não foi a população que se adaptou ao cartório. O cartório se adaptou à população. Em São Gabriel, tão rico e diverso, não fazia sentido que a língua e a cultura se tornassem obstáculos para a cidadania”, afirmou.
Segundo Letícia, o primeiro atendimento no município foi marcante: “Cumprimentei a pessoa, mas ela não conseguia me entender. Como eu poderia garantir direitos a alguém que não compreendia sequer a minha fala? Foi aí que percebi que a inclusão começava pela língua”, relembrou.
Hoje, o cartório realiza atendimentos em mais de 20 idiomas, com apoio de intérpretes indígenas.
As experiências apresentadas pelas registradoras amazonenses foram reconhecidas como exemplos de dedicação e inovação. Ao encerrar o painel, Devanir Garcia reforçou a importância de dar visibilidade a essa realidade: “Obrigado por mostrarem uma realidade que todos precisam conhecer. Saímos daqui mais fortes, porque o trabalho de vocês toca o coração de todos nós”, finalizou.
Fonte: Anoreg/AM (com informações da Arpen/BR)