VISITA AOS CARTÓRIOS: Conheça a história do 7º Tabelionato de Notas de Manaus

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A Associação dos Notários e Registradores do Estado do Amazonas (Anoreg/AM) dá início ao projeto “Visita aos Cartórios”, que conta a história de serventias extrajudiciais amazonenses, sob o olhar dos seus titulares ou representantes, explorando a trajetória e evolução destes locais, destacando os desafios enfrentados e as conquistas alcançadas ao longo dos anos.

Por meio de entrevistas e visitas, o projeto pretende revelar o impacto dessas instituições na sociedade amazonense, evidenciando o papel crucial que desempenham na prestação de serviços públicos essenciais e na garantia de segurança jurídica para a população. Ao dar voz aos titulares, o “Visita aos Cartórios” oferece uma visão única sobre a importância e o funcionamento dessas serventias.

Dando o pontapé inicial, a Anoreg/AM traz a história do 7º Tabelionato de Notas de Manaus, também conhecido como Cartório Fioretti. Confira todos os detalhes abaixo.

Criação

O 7º Tabelionato de Notas de Manaus foi criado pela Lei Complementar Estadual nº 17, de 23 de janeiro de 1997, existindo somente na legislação até 2005, quando foi provido pelo Concurso Público de Provas e Títulos para Ingresso na Titularidade dos Serviços Notariais e de Registro, realizado pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM).

A candidata aprovada que escolheu gerir o estabelecimento foi de Juliana de Sá Fioretti, primeira e única tabeliã da serventia desde sua criação. Com graduação em Direito e especialização em Direito Notarial e Registral, Juliana advogou na área imobiliária, em São Paulo, até passar no concurso público para ingresso na atividade notarial no Amazonas.

O processo de escolha dos cartórios para aquele concurso aconteceu no dia 20 de fevereiro e a abertura do 7º Tabelionato de Notas de Manaus ocorreu somente dois meses depois, no dia 24 de abril de 2006. “Nesse período, foi uma correria. Quando começamos, o cartório era pequenininho, começamos do zero. Eu o inaugurei, abri a fichinha número 1, o cliente número 1. Como vim de fora, ninguém me conhecia. Tive que fazer muitas visitas para me apresentar e me fazer conhecida, para as pessoas saberem que naquele lugar existia um cartório. Esse processo demorou um tempo”, relata Juliana Fioretti.

Inicialmente, o Cartório Fioretti funcionou na avenida André Araújo, no bairro Aleixo, zona Centro-Sul da capital, onde permaneceu por nove anos.

Desafios

Uma das principais dificuldades, no início, foi conseguir público e clientes pois, segundo a titular, para oferecer um bom atendimento, é preciso ter funcionários, mão de obra especializada e qualificada, entre outras coisas, o que gera muitos custos.

“Os primeiros anos foram desafiadores devido à falta de recursos, pois, no cartório, se houver lucro, é seu, mas se houver mais despesas do que lucro, o prejuízo também é seu. Você precisa criar do zero, investir em mobiliário, equipamentos, entre outros. No primeiro ano, fiquei colocando dinheiro no cartório. Ele não rendia o suficiente nem para pagar o aluguel, quem dirá a folha de pagamento”, conta Juliana.  

Além disso, toda a experiência de Juliana era como usuária de cartório, como advogada que atuava em cartório, mas sem a visão de dentro, o lado administrativo. Foi algo que a tabeliã apreendeu a conduzir com o tempo.

Mudança de endereço

No decorrer dos anos, o número de clientes foi aumentando, assim como as demandas. Quando o cartório já não conseguia absorver o público de forma confortável, a titular comprou, em 2015, um terreno e construiu a nova sede do Cartório Fioretti, saindo, então, do aluguel. A serventia passou a se localizar na avenida Gabriel Corrêa Pedrosa, no bairro Parque 10 de Novembro, também na zona Centro-Sul, onde funciona até os dias atuais.

“Demorei pelo menos uns cinco anos para alcançar um certo conforto e sentir que estava tudo funcionando bem. As coisas foram evoluindo e chegou uma hora que não dávamos mais conta, naquela primeira sede, que era alugada. Foi quando vi a oportunidade de ir construir um espaço próprio e adequado para o atendimento”, explica Fioretti.

Principais atos

Entre os atos mais praticados no 7º Tabelionato de Notas estão escrituras e procurações, que não param de crescer em volume, além de autenticações e reconhecimentos, que são serviços volumosos, embora, segundo Juliana, venham diminuindo com o passar dos anos devido à informatização. “Hoje, tudo está no computador, então as pessoas já não usam tanto papel. Por isso, a autenticação de documentos no papel está diminuindo. Mas ganhamos em outros serviços. O volume de escrituras, procurações e apostilas de Haia tem crescido muito. Divórcios e inventários também vêm registrando grande crescimento”, destaca.

Gestão

O cartório começou com cinco colaboradores e, hoje, já são 50 funcionários. Para a titular, gerir uma equipe tão grande é um desafio. “A parte jurídica e de escritura eu tiro de letra, é o que eu gosto. Mas a parte administrativa do cartório é realmente desafiadora. Precisei buscar mão de obra especializada, pois minha formação não é em administração. À medida em que crescemos, a equipe que fica atrás do balcão também cresce. As pessoas só veem os funcionários que estão atendendo, mas não imaginam a quantidade de pessoas que temos no administrativo para fazer tudo funcionar”, detalha Juliana, pontuando setores como os de recursos humanos, compras e financeiro.

Planos

Falando em crescimento, os próximos planos da titular incluem a ampliação do cartório, para a contratação de novos funcionários, visando atender de forma ainda mais célere as demandas crescentes da serventia. “Estou precisando contratar, então, estamos iniciando um projeto de arquitetura, pois tenho uma área, aqui atrás, que está apenas coberta. Vamos ampliar em cerca de 100 metros quadrados”, disse. Juliana também aponta a implementação de arquivo deslizante, que deve ampliar a capacidade de ordenação do acervo dar mais praticidade no manuseio do espaço. 

Para o futuro, a delegatária também pretende passar a disponibilizar o serviço de Mediação e Conciliação. “Hoje, não conheço nenhum cartório que já esteja oferecendo esse serviço. Estamos ensaiando, há um tempo. É um serviço criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), já autorizado para ser executado pelos cartórios, porém, além de precisar de um espaço que ainda não temos, necessitamos de pessoas especializadas para iniciar esse serviço, além de ter que estimular a própria demanda, já que seria um ato novo em um contexto em que a sociedade possui a cultura da judicialização”, afirma.

Cartórios de Notas

Sobre a importância dos Cartórios de Notas para a sociedade, Juliana Fioretti pontua que o que ela mais observa, no dia a dia, é ao número significativos de fraudes evitadas pelos tabelionatos. “Às vezes, as pessoas questionam por que precisam reconhecer uma assinatura, mas é nesse reconhecimento que prevenimos alguém de se passar por outra pessoa, falsificação, invasão. Vários atos que realizamos aqui são rigorosamente conferidos e checados. E por que pedimos tantas certidões? Justamente por essa segurança”, explica.

Ainda sob as palavras da tabeliã, o que a agrada em trabalhar no cartório é saber que as pessoas vão até a serventia porque precisam resolver algo. Elas vão em busca de uma procuração porque precisam resolver algum problema. E o cartório consegue resolver.

“O cartório não cria a burocracia, ele a resolve. Eu me realizo completamente sendo tabeliã. Tenho essa visão de que estou aqui para fazer o bem. Ninguém vem aqui apenas para tomar café. As pessoas vêm porque precisam de algo, procuram nossa ajuda, às vezes até uma orientação jurídica, que é gratuita”, disse.

Realização

Juliana Fioretti faz um resgate da trajetória do cartório e celebra a consolidação do estabelecimento pelo qual lutou e que, hoje, lhe gera o sentimento de realização, tanto no aspecto profissional quanto no pessoal.

“Cheguei aqui sem nada. Para montar o cartório, fui ao banco e me endividei. Fiquei anos pagando esse empréstimo. Foi muito difícil no começo, mas era um sonho tão grande, uma realização tão importante para mim, que apostei tudo. Valeu a pena. Hoje, me sinto realizada profissionalmente porque trabalho com o que gosto e, também, pessoalmente. Aqui eu me casei, tive três filhos manauaras, trouxe minha mãe, meu irmão e meu melhor amigo. As pessoas perguntam se ainda prestei concurso para voltar para São Paulo e minha resposta é não. Depois que abri o cartório, nunca mais fiz concurso. Não tenho vontade porque sou feliz aqui. Manaus me abraçou”, finalizou a delegatária.

Texto e fotos: Alan Marcos Oliveira / Anoreg/AM

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